A cartografia consiste na representação geométrica plana, simplificada e convencional da superfície terrestre, apresentada em forma de mapas, cartas ou plantas. Por se tratar de uma representação bidimensional de algo que é tridimensional, todas as representações sofrem algum tipo de deformação, de modo que a escolha por um método leva em conta não apenas aspectos técnicos, mas também políticos.
Mapa do mundo de 1300. Imagem via Wikicommons, sob domínio público
Apesar da cartografia ser atribuída aos sumérios, há registros anteriores de pinturas rupestres e até entalhes de pedra confeccionados por esquimós e astecas, que sugerem tentativas de representar pequenas localidades. Todas as grandes civilizações utilizaram desenhos e maquetes como ferramentas de comunicação. Os egípcios, por exemplo, usavam como ferramenta administrativa, para cobrar impostos e demarcar a terra, enquanto os gregos são considerados os “pais” da cartografia contemporânea, unindo os conhecimentos variados dos campos da geometria e da astronomia.
Sítio Arqueológico de Sayhuite. Imagem via Wikicommons, sob domínio público
O desenvolvimento da cartografia chegou até os mapas de rotas marítimas, que combinavam os dados técnicos com interpretações etnográficas das rotas, trazendo as angústias do desconhecido a partir do retrato dos desafios do trajeto, ilustrados por monstros marinhos, tempestades etc. David Harvey afirma que “de uma perspectiva etnocêntrica, as viagens de descoberta produziram um assombroso fluxo de conhecimento acerca de um mundo mais amplo que teve de ser, de alguma maneira, absorvido e representado. Elas indicavam um globo que era finito e potencialmente apreensível.”
África del norte. Mapa de Gabriel de Vallseca, realizado em 1439. Imagem via Wikicommons, sob domínio público
Dessa forma, a partir do desbravamento dos mares e da ampliação do conhecimento sobre a terra, os mapas vão ganhando caráter mais técnico e informativo, chegando àquilo que temos hoje na cartografia contemporânea, baseada em projeções. Estas transformam um elemento tridimensional, o planeta terra, em um desenho bidimensional, um mapa. Esta espécie de "tradução" impossibilita uma projeção perfeita, e portanto, todas as representações guardam alguma deformação. Essa deformação tem relação com a área de tangência, que é o ponto onde a projeção entra em contato com a superfície do globo. As regiões mais próximas desse eixo conseguem ser retratadas de maneira mais próxima do real, e a distorção vai aumentando na direção oposta da área.
Esquema Projeção Plana. Image via IBGE
Esquema Projeção Cônica. Image via IBGE
Esquema Projeção Cilíndrica. Image via IBGE
A cartografia reconhece três tipos de projeção, a cilíndrica, que utiliza um cilindro como área do plano; a cônica, que utiliza um cone como plano; e a plana ou azimutal, que não tem um plano específico, nem uma área de tangência, mas normalmente utiliza os pólos como centralidade. Além dos tipos de projeção, outro importante critério para as representações é sua propriedade, de acordo com as áreas, os ângulos ou as distâncias da representação. A representação deve ser fiel a um desses critérios, mas por questões geométricas não consegue responder aos três ao mesmo tempo. Dentre as muitas variações e os múltiplos critérios, os mapas podem ser classificados combinando seu tipo de projeção com sua propriedade, como por exemplo a Projeção de Mercator, que é uma projeção cilíndrica com seu eixo principal no hemisfério norte, valorizando em tamanho os países daquela parte do globo, sem variar os ângulos em nenhum ponto da projeção.
Mapa do Mundo de Mercator século XVIII. Imagem via Wikicommons, sob domínio público
Outra importante projeção é a de Peters, que também é cilíndrica, mas ao invés do destaque eurocêntrico, ela preserva as áreas reais e acaba destacando os países do hemisfério sul. Atualmente, a representação mais utilizada é a projeção de Robinson, uma representação afilática, que não preserva nenhuma propriedade como área, distância ou ângulo, e que também é pseudocilíndrica. A intenção dessa projeção é reduzir as distorções angulares, o que gera uma distorção mínima das áreas continentais, sendo, portanto, considerada a projeção que melhor apresenta as massas de terra.
Projeção de Robinson. Imagem via IBGE
Partindo do princípio que a cartografia não é uma representação absoluta, mas sim uma tentativa de ilustrar o real, Adriana Lopes Rodrigues afirma que “enquanto a projeção procura ser uma relação matemática de proporções para a transposição daquilo que está no mundo físico para um plano no papel, a distorção seria um lembrete de que algo ficou de fora. Ambos os termos, projeção – enquanto transferência – e distorção – enquanto equívoco – reafirmam que o mapa precisa ser interpretado, é dependente de leitura atenta às suas condições de produção.” Assim, todas as representações precisam ser lidas criticamente. Um exemplo disso é a relação de áreas entre a área do Deserto do Saara que se aproxima dos 9 mil km2, mas no mapa costuma ser retratado menor do que alguns países, como o Brasil que tem um território de cerca de 8 mil km2.
A tecnologia de hoje permite visões mais reais e dados mais confiáveis da leitura do território da superfície terrestre. Porém, assim como as projeções mais antigas, os dados coletados precisam ser lidos, analisados e interpretados criticamente para que possam servir de base para o conhecimento científico.
Fonte: Giovana Martino. "As diferentes projeções cartográficas e o que elas significam" 11/05/2022. ArchDaily Brasil. Acessado 13/09/2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário