terça-feira, 13 de setembro de 2022

As diferentes projeções cartográficas e o que elas significam

A cartografia consiste na representação geométrica plana, simplifica­da e convencional da superfície terrestre, apresentada em forma de mapas, cartas ou plantas. Por se tratar de uma representação bidimensional de algo que é tridimensional, todas as representações sofrem algum tipo de deformação, de modo que a escolha por um método leva em conta não apenas aspectos técnicos, mas também políticos.

Mapa do mundo de 1300. Imagem via Wikicommons, sob domínio público

Apesar da cartografia ser atribuída aos sumérios, há registros anteriores de pinturas rupestres e até entalhes de pedra confeccionados por esquimós e astecas, que sugerem tentativas de representar pequenas localidades. Todas as grandes civilizações utilizaram desenhos e maquetes como ferramentas de comunicação. Os egípcios, por exemplo, usavam como ferramenta administrativa, para cobrar impostos e demarcar a terra, enquanto os gregos são considerados os “pais” da cartografia contemporânea, unindo os conhecimentos variados dos campos da geometria e da astronomia.

Sítio Arqueológico de Sayhuite. Imagem via Wikicommons, sob domínio público

O desenvolvimento da cartografia chegou até os mapas de rotas marítimas, que combinavam os dados técnicos com interpretações etnográficas das rotas, trazendo as angústias do desconhecido a partir do retrato dos desafios do trajeto, ilustrados por monstros marinhos, tempestades etc. David Harvey afirma que “de uma perspectiva etnocêntrica, as viagens de descoberta produziram um assombroso fluxo de conhecimento acerca de um mundo mais amplo que teve de ser, de alguma maneira, absorvido e representado. Elas indicavam um globo que era finito e potencialmente apreensível.”

África del norte. Mapa de Gabriel de Vallseca, realizado em 1439. Imagem via Wikicommons, sob domínio público

Dessa forma, a partir do desbravamento dos mares e da ampliação do conhecimento sobre a terra, os mapas vão ganhando caráter mais técnico e informativo, chegando àquilo que temos hoje na cartografia contemporânea, baseada em projeções. Estas transformam um elemento tridimensional, o planeta terra, em um desenho bidimensional, um mapa. Esta espécie de "tradução" impossibilita uma projeção perfeita, e portanto, todas as representações guardam alguma deformação. Essa deformação tem relação com a área de tangência, que é o ponto onde a projeção entra em contato com a superfície do globo. As regiões mais próximas desse eixo conseguem ser retratadas de maneira mais próxima do real, e a distorção vai aumentando na direção oposta da área.

Esquema Projeção Plana. Image via IBGE

Esquema Projeção Cônica. Image via IBGE

Esquema Projeção Cilíndrica. Image via IBGE

A cartografia reconhece três tipos de projeção, a cilíndrica, que utiliza um cilindro como área do plano; a cônica, que utiliza um cone como plano; e a plana ou azimutal, que não tem um plano específico, nem uma área de tangência, mas normalmente utiliza os pólos como centralidade. Além dos tipos de projeção, outro importante critério para as representações é sua propriedade, de acordo com as áreas, os ângulos ou as distâncias da representação. A representação deve ser fiel a um desses critérios, mas por questões geométricas não consegue responder aos três ao mesmo tempo. Dentre as muitas variações e os múltiplos critérios, os mapas podem ser classificados combinando seu tipo de projeção com sua propriedade, como por exemplo a Projeção de Mercator, que é uma projeção cilíndrica com seu eixo principal no hemisfério norte, valorizando em tamanho os países daquela parte do globo, sem variar os ângulos em nenhum ponto da projeção.

Mapa do Mundo de Mercator século XVIII. Imagem via Wikicommons, sob domínio público

Outra importante projeção é a de Peters, que também é cilíndrica, mas ao invés do destaque eurocêntrico, ela preserva as áreas reais e acaba destacando os países do hemisfério sul. Atualmente, a representação mais utilizada é a projeção de Robinson, uma representação afilática, que não preserva nenhuma propriedade como área, distância ou ângulo, e que também é pseudocilíndrica. A intenção dessa projeção é reduzir as distorções angulares, o que gera uma distorção mínima das áreas continentais, sendo, portanto, considerada a projeção que melhor apresenta as massas de terra.

Projeção de Robinson. Imagem via IBGE

Partindo do princípio que a cartografia não é uma representação absoluta, mas sim uma tentativa de ilustrar o real, Adriana Lopes Rodrigues afirma que “enquanto a projeção procura ser uma relação matemática de proporções para a transposição daquilo que está no mundo físico para um plano no papel, a distorção seria um lembrete de que algo ficou de fora. Ambos os termos, projeção – enquanto transferência – e distorção – enquanto equívoco – reafirmam que o mapa precisa ser interpretado, é dependente de leitura atenta às suas condições de produção.” Assim, todas as representações precisam ser lidas criticamente. Um exemplo disso é a relação de áreas entre a área do Deserto do Saara que se aproxima dos 9 mil km2, mas no mapa costuma ser retratado menor do que alguns países, como o Brasil que tem um território de cerca de 8 mil km2.

A tecnologia de hoje permite visões mais reais e dados mais confiáveis da leitura do território da superfície terrestre. Porém, assim como as projeções mais antigas, os dados coletados precisam ser lidos, analisados e interpretados criticamente para que possam servir de base para o conhecimento científico.

Fonte: Giovana Martino. "As diferentes projeções cartográficas e o que elas significam" 11/05/2022. ArchDaily Brasil. Acessado 13/09/2022

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

‘Sounds of the Florest’: plataforma interativa disponibiliza sons gravados em lugares da Amazônia

A plataforma online e colaborativa "Sounds of the Forest" possibilita o compartilhamento de sons coletados em florestas e bosques de todo o mundo, incluindo a Amazônia. O material disponibilizado forma uma biblioteca de código aberto, que pode ser usada por qualquer pessoa para ouvir e até mesmo criar novos sons.

“Estamos coletando os sons de bosques e florestas de todo o mundo, criando um mapa sonoro crescente que reúne tons e texturas aurais das florestas do mundo”, diz o site.

A plataforma funciona de forma interativa. É possível clicar em determinados pontos do mapa para ouvir o som desejado. Do Brasil, foram gravados sons na Amazônia e Mata Atlântica, em Estados como o Amazonas, Pará, Mato Grosso, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná.

O ouvinte consegue ouvir sons gravados durante uma noite de raios e trovões na floresta amazônica, primatas nativos da região e até cachoeiras na Mata Atlântica.

É possível clicar no mapa interativo para ouvir o som desejado. (Reprodução/Sounds of the forest)

A plataforma foi criada para que artistas selecionados pudessem criar “música, áudio, arte ou algo mais incrível” para ser apresentado no Timber Festival do ano passado.

Como contribuir
Para compartilhar algo na plataforma, o site orienta que a pessoa entre no local, seja ele a floresta ou outra área de vegetação, e use um aplicativo de gravação do celular para gravar durante um minuto.

Depois, é necessário registrar, com uma foto, o local que está à sua frente. “Árvores, não as pessoas na foto”, orienta o site.

Após isso, é preciso submeter neste link, informando a localização, inserindo a foto e anexando o arquivo de áudio em formato MP3, WAV ou MP4. O material será analisado pela equipe.

Fonte: AGÊNCIA CENARIUM (12/09/2022, 13h30)

sábado, 20 de agosto de 2022

O 3º Centro de Geoinformação elabora carta histórica comemorativa aos 200 anos de independência do Brasil

No período de abril a agosto de 2022, o 3º Centro de Geoinformação (3º CGEO) organização militar diretamente subordinada à Diretoria de Serviço Geográfico, elaborou uma carta histórica denominada “Carta comemorativa 200 anos de independência do Brasil”, que remonta à representação cartográfica do País em 1822.

Em abril, militares da Divisão de Geoinformação, com auxílio de historiadores do Museu Militar do Forte do Brum, realizaram estudos bibliográficos para obtenção de informações que viabilizaram o início da confecção da Carta. O esboço foi confeccionado no mês de maio. As informações foram compiladas utilizando o software livre Quantum Geographic Information System (QGIS).

No mês seguinte, o projeto foi finalizado e exportado para um software voltado para edições vetoriais, no qual foi possível elaborar e produzir ilustrações históricas e cartográficas que seriam representadas. Dentre as ilustrações, pode-se citar: o título do mapa, a rosa dos ventos, os desenhos históricos reproduzidos e o quadro com as informações históricas.

A distribuição de exemplares às organizações militares da guarnição do Grande Recife foi iniciada em agosto, após aprovação da Diretoria de Serviço Geográfico



Fonte: 3º CGEO (19/08/2022)

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Descoberta de mapa de 1624 joga nova luz sobre a invasão holandesa na Bahia

Fato histórico pouco difundido no Brasil, a invasão holandesa na Bahia, em 1624, anterior à pernambucana, ganhou uma importante fonte de pesquisa, com a descoberta do que pode ser o primeiro mapa da cidade de Salvador, datado do mesmo ano. Recém-adquirido pela Coleção Flávia e Frank Abubakir, sediada na capital baiana, um atlas com 79 mapas do século XVII traz em uma de suas pranchas uma planta da cidade, com vias abertas que ainda coincidem precisamente com as do atual centro histórico.

Mapa de 1624 atribuído ao atribuído ao engenheiro militar Joos Coecke
Foto: Coleção Flávia e Frank Abubakir

O mapa teria sido desenhado por um engenheiro militar chamado Joos Coecke, que participou, aos 38 anos, da invasão de Salvador por uma esquadra de 26 navios e cerca de 3,4 mil holandeses — a cidade só foi retomada em 1625, por uma armada luso-espanhola de mais de 50 navios, após 40 dias de batalha. O atlas foi comprado este ano por Frank Geyer Abubakir, presidente do conselho da empresa química Unipar Carbocloro, que espera desde 2001 para tê-lo na coleção.

Sobreposição de foto aérea atual do centro histórico de Salvador e do mapa de 1624: coincidência de vias surpreende
Foto: Coleção Flávia e Frank Abubakir

Por enquanto, o mapa seguirá na Suíça para pesquisas. Sua vinda para o Brasil poderá se relacionar a futuros projetos, como a efeméride dos 400 anos da invasão holandesa, em 2024. 

Fonte: O Globo (26/06/2022, 04h30)

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Atlas interativo que mostra a evolução do Rio de Janeiro de 1500 até hoje

 A Rice University criou em 2016 um atlas interativo, denominado imagineRio, que ilustra a evolução social e urbana do Rio de Janeiro ao longo de toda a história da cidade, como existiu e como foi frequentemente imaginada.

O projeto, que passou por uma atualização em 2021, consiste em um webmap sobre o qual é possível ver as alterações sofridas na geografia da cidade entre os anos de 1500 e 2022, incorporando projetos urbanos, mapas históricos e desenhos arquitetônicos da cidade e seus diversos componentes que foram criados ao longo de sua história. Ver vídeo informativo abaixo.


Vistas, mapas históricos, imagens aéreas e plantas-baixas - de arquivos iconográficos, cartográficos e arquitetônicos - são posicionadas no tempo e no espaço ao passo que diversas bases de dados e servidores integram suas informações visuais e espaciais, incluindo um repositório público de imagens, um sistema de informação geográfica, um banco de dados relacional de código aberto, e um sistema de entrega de conteúdo online.



Fontes: Getty News & Stories (02/12/2021) e Rice News (07/01/2022)

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Conheça aquele que é considerado o primeiro mapa do Brasil

Publicado pela primeira vez em 1556 no terceiro volume da obra Delle Navigationi et Viaggi de Giovanni Battista Ramusio, o mapa abaixo, de Giovanni Battista Ramusio, tem sido considerado por muitos especialistas como a primeira representação cartográfica do Brasil, ou melhor, daquilo que hoje denominamos Brasil. É um mapa cheio de detalhes, com ilustrações de embarcações, de indígenas, de animais silvestres e até mesmo a nomeação de alguns pontos do relevo brasileiro.

Biblioteca da Universidade de Heidelberg.

Exemplar colorizado da Biblioteca Digital de Cartografia Histórica — Universidade de São Paulo.

O mapa de Giovanni Battista Ramusio já foi objeto de algumas pesquisas no campo da cartografia histórica. Um desses estudos é o artigo “Ensaio sobre o mapa “Brasil” de G. Gastaldi pertencente ao Delle navigationi e viaggi de G. B. Ramusio (1556; 1565; 1606)”, da pesquisadora Olga Okuneva. O artigo, ideal para quem deseja saber mais sobre o mapa, pode ser acessado e baixado gratuitamente clicando aqui.

Fonte: Café História (23/04/2021)

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Rio São Francisco: Estudo Comparado com o Relatório Halfeld, 1860 e 2014

A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) publicou em 2014, em homenagem aos seus 40 anos, o livro "Rio São Francisco: Estudo Comparado com o Relatório Halfeld, 1860 e 2014", o qual se baseou na publicação de 1860 intitulada "Atlas e Relatório concernente a exploração do Rio de S. Francisco desde a Cachoeira da Pirapora até ao Oceano Atlântico: levantado por Ordem do Governo de S. M. I. O Senhor Dom Pedro II", de autoria do engenheiro teuto-brasileiro Henrique Guilherme Fernando Halfeld.

A obra original de 1860 buscou levantar a calha do rio São Francisco, propondo soluções e melhorias para a navegação a vapor, no rio principal e nos tributários: rios das Velhas, Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Corrente e Grande.

Imagem: Divulgação/Senado Federal

Já a obra atual de 2014 visou resgatar o estudo pioneiro, levantando dados e comparando os mapas históricos com as imagens de satélite RapidEye e Google Earth Pro, além de realizar um diagnóstico para contribuir com a revitalização da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

Imagem: Divulgação/Codevasf

Fonte: Codevasf (13/09/2019, 19h03) 

terça-feira, 14 de junho de 2022

FUNAG publica a obra "História do Brasil nos Velhos Mapas"

Por ocasião das comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil, a Fundação Alexandre de Gusmão relança, em formato fac-similar, a obra História do Brasil nos Velhos Mapas, de Jaime Cortesão. Os dois volumes dessa publicação são resultado de um estudo historiográfico que o autor português começou a desenvolver enquanto professor do Instituto Rio Branco, onde, de 1944 a 1950, lecionou história da cartografia, geografia das fronteiras do Brasil e mapoteconomia.

Imagem: Notícias/FUNAG

Em complementação ao relançamento desse livro, o embaixador Affonso Santos organizou novo volume reunindo mapas originais da primeira edição; mapas adicionais não constantes nos dois primeiros volumes e textos de tratados citados na obra; além de um glossário onomástico com informações sobre navegantes, cartógrafos, geógrafos e personalidades referidos pelo autor em seu texto.

Os três volumes estão disponíveis gratuitamente na biblioteca digital da FUNAG.

Fonte: FUNAG (31/05/2022, 10h03)

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Senado lança site em homenagem ao Bicentenário da Independência do Brasil

O Senado lançou oficialmente no dia 03 de junho, em Petrópolis (RJ), em comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil, uma página na internet reunindo notícias, livros, programação de eventos e o website “Itinerários Virtuais da Independência”.

Imagem: Senado Federal

A ferramenta oferecerá recursos interativos, com ambientes de imersão, espaços de leitura, exibição de vídeos, iconografia, podcasts e documentos com o propósito de fornecer uma pluralidade de conteúdos históricos e culturais para difundir conhecimento e estimular o acesso do público não especializado à história da Independência do Brasil.

Fonte: Agência Senado (03/06/2022, 14h55)


OUTRAS INICIATIVAS
Demais sites e projetos foram criados para lembrar a história da Independência neste ano do bicentenário. Conheça alguns a seguir:

Bicentenário da Independência do Brasil: campanha e site do Governo Federal, lançados pela Secretaria Especial da Cultura;

Agenda Bonifácio: plataforma criada pelo estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que reúne a agenda comemorativa do Estado, pílulas históricas, curiosidades e perfis de personagens do período;

Guerra Literária: Panfletos da Independência (1820-1823): publicada em quatro volumes pela Editora UFMG e disponibilizada gratuitamente pela Fundação Biblioteca Nacional, a obra reúne 362 panfletos que registram o debate em torno da Independência, tanto no Brasil quanto em Portugal;

Blog das Independências: apresenta, semanalmente, textos escritos por especialistas sobre temas relacionados. O site é produzido por meio de uma parceria entre a Associação Nacional de História (Anpuh), a Revista Almanack e a Sociedade de Estudos do Oitocentos;

Portal do Bicentenário: iniciativa construída em rede por professores, pesquisadores, instituições de ensino e pesquisa, movimentos sociais e demais entidades, principalmente voltado para professores e estudantes da educação básica.

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Mapa antigo achado em Petrópolis pode ser da Biblioteca Nacional

O mapa do século 18 encontrado na Biblioteca Municipal Gabriela Mistral, em Petrópolis, pode ser o mesmo que se encontra no site da Galeria de Mapas Antigos do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como pertencente à coleção da Biblioteca Nacional. A obra foi descoberta no andar térreo da Gabriela Mistral, há cerca de duas semanas, junto com outros documentos também não catalogados na biblioteca petropolitana, após um trabalho emergencial por conta de uma inundação.

Imagem: acervo IPHAN

Leia mais (27/05/2022)